Nathaniel Hawthorne — Rappaccini’s Daughter

Desafio 2015: Livro de um autor que você nunca tenha lido


Ana,

Desde a faculdade que eu venho ouvindo falarem sobre Nathaniel Hawthorne, mas nunca tinha lido nada dele, sabe-se lá por quê.

Para essa categoria, eu escolhi essa novela depois de ler que Beatrice — a filha de Rappaccini — inspirou ao mesmo tempo duas supervilãs, a personagem Era Venenosa (Poison Ivy, da DC Comics) e a filha de Monica Rappaccini (inspirada no Dr. Rappaccini), Carmila Black (da Marvel) 😀

Giovanni é um universitário italiano que se muda pra Pádua para estudar com um grande amigo de seu pai, o professor Pietro Baglioni. Ele acaba indo morar numa pensão vizinha ao Dr. Rappaccini, um cientista proscrito da comunidade por seus trabalhos um tanto quanto suspeitos com plantas venenosas.

Através da sua janela, Giovanni começa a perceber algo estranho com Beatrice, filha do cientista, que parece imune aos malefícios das plantas. Vale lembrar que o jardim inteiro deles é formado por plantas e ervas venenosas. Um fucking jardim inteiro! Mesmo com receio de algum contato com ela — principalmente depois de perceber que ela não só é imune a veneno como faz morrer flores e insetos ao redor de si —, Giovanni se apaixona e começa a se encontrar no jardim com Beatrice, pra desespero de seu tutor, que tenta afastá-lo dela com medo que Rappaccini possa usar o rapaz pra algum experimento, como desconfiam (com razão) que ele tenha feito com a filha.

No slideshare eu achei uma aula (parece) superinteressante sobre vários aspectos da obra — a relação entre pai e filha, veneno e amor, o aspecto belo e terrível de Beatrice, as várias interpretações para a porta do jardim e do próprio jardim e go on. Acho legal a visita 🙂

–Anna

Yasunari Kawabata – A Casa das Belas Adormecidas

Ana,

Esse livro é mais um dos meus não-lidos-e-já-comprados-ou-baixados e, por coincidência, também é de um escritor japonês. Quando eu li Memória de Minhas Putas Tristes a primeira vez — e não gostei —, fiquei intrigada com o título do livro do Kawabata, que é o que serve de mote para o livro do García Marquez. Um dia, quando já estava relendo o Memória…  — e gostando —, resolvi procurar o A Casa das Belas Adormecidas, que ficou baixado e esquecido no HD.

Eu já disse que a coisa que estou mais amando no Desafio (e no bloguito) é poder ler coisas que eu não leria? 😀

A Casa das Belas Adormecidas é um livro sensível e bonito. Conta as idas de Eguchi, um senhor de 67 anos, casado e pai de três moças também casadas, ao que seria uma casa de prostituição, não fosse o fato das moças serem virgens — e terem que permanecer como tal —, estarem sempre adormecidas por um poderoso sonífero e só receberem senhores de idade pra passar a noite, “para evitar constrangimento aos velhos que não eram mais homens“. Eguchi visitou a casa pela primeira vez por curiosidade, já que ouviu falar dela através de um amigo, mas acabou retornando lá “sempre que o desespero de envelhecer se tornava insuportável“.

para os velhotes que pagavam pelas jovens, o fato de poder deitar-se ao lado de uma garota como aquela equivalia, sem dúvida, à felicidade de se encontrar no paraíso. Já que a menina não acordava, o cliente idoso não precisava envergonhar-se do complexo de senilidade, e ganhava a permissão de perseguir livremente suas fantasias a respeito das mulheres e mergulhar em recordações. Talvez por isso não hesitassem em pagar mais caro pela garota adormecida do que por uma mulher acordada.

Durante essas noites, Eguchi se recorda de várias passagens de sua vida, desde a morte da mãe até suas namoradas e seu casamento. Pensa também nas filhas e em ex-amores, e se questiona muito sobre a velhice e o que ela traz de mais terrível: a solidão.

Numa noite tão fria, se pudesse me aquecer no calor de um corpo jovem e morrer de repente seria a suprema felicidade para este velho.

(…)

[Eguchi,] como um ser humano comum, vez por outra caía em depressão devido ao vazio da solidão e ao desgosto do isolamento. Não seria aquela casa um local ideal para morrer?

O livro traz algumas considerações sobre a sexualidade na velhice e sobre o feminino, o que é bem bacana de se considerar.

A sexualidade na idade madura aflora nua e crua num cenário composto para o deleite de quem não mais pode procurá-lo por conta própria. (…) A pureza da garota, pelo contrário, acentuava a fealdade dos velhos.

– –

não se pode conhecer a exuberância do corpo de uma garota somente com o olhar, nem apenas se deitando ao seu lado de maneira recatada.

(…)

Parece que o responsável por conduzir o homem ao “mundo da perdição” era o corpo feminino.

É interessante observar como Eguchi, sendo deixado sozinho no quarto com uma adolescente adormecida e nua, sempre tem que conter seus ímpetos violentos. Ele fica se questionando se seria capaz de matar uma mulher somente por prazer, ou se perguntando o que aconteceria com a casa se uma das meninas amanhecesse morta.

[Uma mulher adormecida] Seria um brinquedo perfeito ou um animal de sacrifício?

Sem contar a consideração final dele ao meditar sobre os acontecimentos que levaram ao casamento da filha mais nova, a sua preferida:

O corpo de sua filha caçula não era diferente do de qualquer outra mulher. Era feito para ser subjugado à vontade de um homem.

É uma novela curtinha, mas o final não me agradou. Pareceu terminado às pressas, ou parece que o final não combinou com o restante do livro, não sei. Mas serviu de pretexto pra eu reler de novo (re-reler) o Memórias 🙂

– Anna