Ana,
eu também vou começar minha resenha com um disclaimer. Aliás, com um testemunho (Igreja Mode On): DELS, como eu detesto cozinhar. Eu entendo o prazer que as pessoas devem sentir ao fazê-lo, eu entendo a empolgação – até porque uma das coisas mais bacanas de se fazer na vida é comer, e poucas coisas são tão prazerosas quanto uma comida bem-feita. Mas não me faça ir à cozinha.
Bem, eu cozinho porque tenho que. Moro perto do trabalho, só entro na agência às 14h, então não faria muito sentido eu comer fora todos os dias, ou pedir delivery (é uma atitude meio burra e antiminimalista, penso eu), até porque eu sou uma pessoa até bem comportadinha na hora de comer (brigada, mãe) – não troco almoço/ jantar por McDonalds no dia-a-dia, não sou muito de junk food e comida light etc. (falarei mais disso em outro post ~ sempre quis dizer isso!!!! *fabulous & famous*). Então imagina meu drama ao ir pra cozinha: quero comer, quero comer direito (não fico feliz comendo gororoba), mas não tenho o mínimo “dom”. E nem vontade, essa é a verdade. Não é que eu não saiba cozinhar, é que eu não gosto de cozinhar, então fica meio difícil aprender a fazer algo direito.
Dito isso, vamos ao livro.
QUE AMÔ que é a Dona Julia Child! O livro é uma autobiografia lançada pouco depois da morte dela (chuif) pelo jornalista Alex Prud’Homme e narra o período em que ela e o marido, Paul Child, viveram na França – boa parte em Paris e um ano em Marseille –, entre 1948 e 1954. Esse foi o período em que Julia, que “até então só comia”, aprendeu a cozinhar e se tornou uma das autoras de livros de culinária mais conhecidas dos EUA (ela também tinha um programa de televisão #ChupaAnaMaria). Seu marido trabalhava para as Relações Exteriores, então eles moraram um bom tempo fora, na Europa (coisa horrorosa, gente).
Julia tem um estilo bem descomprometido (não quer dizer descuidado ou ruim) de narrar, e é muito bem-humorada. Adorei essa parte quando eles se mudam pra Paris e passam seu primeiro inverno num apartamento alugado:
The building had no central heating and was as cold and damp as Lazarus’s tomb. Our breath came out in great puffs indoors. So, like true Parisians, we installed an ugly little potbellied stove in the salon and sealed ourselves off for the winter. We stoked that bloody stove all day, and it provided a faint trace of heat and a strong stench of coal gas. Huddled there, we made quite a pair: Paul, dressed in his Chinese winter jacket, would sit midway between the potbellied stove and the forty-five-watt lamp, reading. I, charmingly outfitted in a thick padded coat, several layers of long underwear, and some dreadfully huge red leather shoes, would sit at a gilt table attempting to type letters with stiff fingers. Oh, the glamour of Paris!
Ela e o marido são extremamente apaixonados pela França (como não, né, gente), e ela não se cansa de rasgar seda pra cidade, é ótimo.
I felt a lift of pure happiness every time I looked out the window.
I had come to the conclusion that I must really be French, only no one had ever informed me of this fact. I loved the people, the food, the lay of the land, the civilized atmosphere, and the generous pace of life.
It seemed that in Paris you could discuss classic literature or architecture or great music with everyone from the garbage collector to the mayor.
(…)
In Cannes the sun was hot and the champagne was cold, and it was extremely pleasant just to sit and look around.
Gostei super do livro, mais do que imaginei que gostaria. Deu até vontade de ver algum episódio do programa dela (dizem que ela era desastrada horrores). Mas confesso que fiquei assustada com essa parte da carta que o marido dela envia pro irmão dele, sobre os progressos culinários de Julia:
She’s becoming an expert plucker, skinner and boner. It’s a wonderful sight to see her pulling all the guts out of a chicken through a tiny hole in its neck and then, from the same little orifice, loosening the skin from the flesh in order to put in an array of leopard-spots made of truffles. Or to watch her remove all the bones from a goose without tearing the skin. And you ought to see [her] skin a wild hare—you’d swear she’d just been Comin’ Round the Mountain with Her Bowie Knife in Hand.