Richard Dawkins – Deus, um Delírio

Anna,

Deus, um Delírio é um daqueles livros clássicos que todo mundo comenta, mas três ou quatro já leram. E a maioria das pessoas que acredita em um tipo de Deus tem um certo preconceito e acaba não lendo. Talvez por medo do que irá encontrar. Pensei muito antes de fazer esta resenha. O que diabos eu poderia acrescentar, tanto contra ou a favor? Resolvi fazer mais para postar algumas citações do que para outra coisa – o problema foi selecionar, metade do meu livro está amarelo! 😀

O livro não mudou minha posição espiritual, então talvez Dawkins fique um pouco decepcionado comigo, porque ele fala claramente que o objetivo do livro é “converter” as pessoas ao ateísmo. O meu repúdio à religiões aumentou? Não (até porque não tinha como), mas ficou melhor embasado.

Como disse o físico americano e prêmio Nobel Steven Weinberg, “a religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem ela, teríamos gente boa fazendo coisas boas e gente ruim fazendo coisas ruins. Mas, para que gente boa faça coisas ruins, é preciso a religião”.

Uma crítica ao livro é que ele é bastante repetitivo. Em certas partes, eu me via pensando “Ok, Dawkins, já entendi seu ponto, prossiga”. Dawkins BRILHA quando descreve as histórias bizarras da Bíblia. A de Abraão é a mais tranquila! E eu lembro do meu trauma infantil ao ler esta história no livro “Histórias da Bíblia para Crianças”, e lembro da minha mãe pacientemente me explicando que a Bíblia não deveria ser interpretada literalmente – OBRIGADA MÃE.

Jesus não se contentou em retirar sua ética das Escrituras sob as quais foi criado. Ele rompeu explicitamente com elas, por exemplo, quando esvaziou as advertências duras contra desobedecer ao Shabat.

Quando Dawkins fala do Talibã, é impossível não lembrar do I am Malala. Quando ele fala do Talibã Americano (os fundamentalistas cristãos americanos), você sente medo. E, quando ele te lembra da hipócrita Madre Teresa de Calcutá, você fica tentando se controlar para não virar fã do cara e abandonar totalmente a imparcialidade na resenha. Finalmente, quando ele entra na questão do aborto, você desiste, assume que adorou o livro e pronto. Afinal, quem não gosta de ver as próprias ideias escritas de forma bem articulada e “endossadas” por um cientista famoso?

Embriões humanos são exemplos de vida humana. Portanto, à luz do absolutismo religioso, o aborto é simplesmente errado: assassinato declarado. Não sei bem o que fazer com minha observação reconhecidamente anedótica de que muitos daqueles que mais ardentemente são contra tirar a vida de um embrião também parecem ser mais entusiastas que o normal em tirar a vida de um adulto. Para ser justo, isso não se aplica, como regra, aos católicos apostólicos romanos, que estão entre os mais eloquentes adversários do aborto.

Agora, A MELHOR parte é a final, quando ele fala sobre o crime que é rotular crianças como “cristãs”, “muçulmanas”, “judias”, etc, antes que elas tenham idade e maturidade para decidir sobre o tema.

Em resumo, as crianças têm o direito de não ter a cabeça confundida por absurdos, e nós, como sociedade, temos o dever de protegê-las disso. Portanto, não devemos permitir que os pais ensinem os filhos a acreditar, por exemplo, na veracidade literal da Bíblia ou que os planetas governam sua vida, assim como não permitimos que eles arranquem os dentes dos filhos ou os tranquem num calabouço. […] Agradeço aos meus pais por adotar a opinião de que o mais importante não é ensinar às crianças o que pensar, mas como pensar. Se depois de ter sido expostas de forma justa e adequada a todas as evidências científicas elas crescerem e decidirem que a Bíblia diz a verdade literal ou que o movimento dos planetas governa suas vidas, é direito delas. O essencial é que é direito delas decidir o que pensarão, e não dos pais de impô-lo por force majeure.

Tudo bem, você pode dizer, é difícil para uma criança amish, ou hassídica, ou cigana, ser moldada por seus pais como são – mas pelo menos o resultado é que esas tradições culturais fascinantes subsistem. Nossa civilização não ficaria mais pobre se elas fossem eliminadas? É uma pena, talvez, que indivíduos tenham de ser sacrificados para manter essa diversidade. Mas é o preço que pagamos como sociedade. Só que, sinto-me obrigado a lembrar, não somos nós que pagamos, são eles.  […] É claro que se deve permitir que vocês (amish) aprisionem suas crianças em seu túnel do tempo seiscentista, senão perderíamos uma coisa irrecuperável: uma parte da maravilhosa diversidade da cultura humana. Uma pequena parte de mim consegue ver alguma coisa nisso. Mas a maior parte fica é com enjoo.

Tem como não achar isso certíssimo?

–  Ana

Uma resposta em “Richard Dawkins – Deus, um Delírio

  1. Esse livro me embasou em muita coisa também, e foi graças a ele que eu deixei de ver as religiões como ok e passei a ver o real perigo delas. Depois eu virei fangirl do Hitchens, daí piorou tudo 😀

    Quanto a rotulação de crianças: tem como não certíssimo? não 😀

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