J. M. Coetzee – Desonra [2]

Ana,

Tenho ouvido falar de Coetzee há alguns anos, pois é um dos autores favoritos de um amigo, mas nunca deixei a preguiça literária de lado para realmente pegar algo dele pra ler. Dessa vez, não pude ignorar Desonra depois do seu post.

Não consegui achar palavra melhor pra classificá-lo do que a que você já usou: brilhante. Claro, o livro faz jus ao nome. E é daqueles que não cansam de te dar tapas na cara: a vida não é perfeita, a vida não é como queremos, as coisas sempre podem piorar, as pessoas não tomam sempre as decisões mais acertadas. Um aspecto que me tocou pessoalmente: a escolha de sofrer sozinho (no caso de Lucy, filha do protagonista). Não sei se é pela minha total aversão a querer chegar no fundo do poço, mas ao menor indício de dor, sofrimento ou o que seja, eu já estou querendo contar, querendo conversar (tadinha de você :P), querendo achar uma saída. E as escolhas da personagem me desesperaram muitíssimo, nossa. Às vezes eu pegava o Kindle pra ler e ficava meio receosa de ligar, só pra não dar de cara com a agonia do pai querendo ajudar, querendo saber o que estava acontecendo e ela lá, cada vez mais fechada em si, cada vez mais trancada, mais distante. Isso até agora me aflige, só de lembrar.

Desonra não é um livro que se redime no final. Não é um livro onde se faz justiça, onde tudo acaba bem, onde apesar de tudo as pessoas se reerguem e etc. O final de tudo fica suspenso, fica ali à espera de mais uma desgraça, de mais um degrauzinho pra baixo, de mais uma chance de levar uma vida que não é a que ninguém quer pra si.

Quero ler mais livros do autor. Mas preciso antes desanuviar.
– Anna